o meu bloco de notas

sábado, abril 07, 2007

Conhecer pela imagem?

Este foi para mim o texto mais complicado de ler e perceber, talvez porque esteja escrito em francês (tenho mesmo que aprender esta língua) ou talvez porque o texto em si contém alguns conceitos muito complexos... recorri a informação complementar.

The mind must be more complicated than any theory of it: however complex the theory, a device that invented it must be still more complex. (P. Johnson -Laird)


Para se conhecer uma coisa é necessário uma representação dessa mesma coisa.

O conhecimento começa com uma duplicação mimética do real e desenvolve-se através de uma hierarquia de representações icónicas, indo as imagens desde um nível de base até aos modelos mentais, cada vez mais abstractos mas igualmente icónicos.

A sugestão de Jonhson - Laird é de que as pessoas raciocinam através de modelos mentais, isto é, através de representações internas de informações que correspondem analogamente àquilo que é representado.

"Na perspectiva deste psicólogo, "representações proposicionais são cadeias de símbolos que correspondem à linguagem natural, modelos mentais são análogos estruturais do mundo e imagens são modelos vistos de um determinado ponto de vista." (Moreira, 1997)


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Referindo agora os modelos conceptuais, que diferem dos modelos mentais na sua fase de utilização pelo sujeito em aprendizagem, isto porque se destinam quase sempre à formalização à posteriori de um modelo mental. Este tipo de modelo é muitas vezes fornecido, de forma "pronta" e permite ao sujeito em aprendizagem construir modelos mentais a partir do abstracto.

Neste caso, quando se fala em 'modelos conceptuais', pode ser uma imagem dum manual escolar. Ao olhar para a imagem, o estudante vai interpretá-la de acordo com o seu seu próprio modelo mental, e através de ligações de significado evoluirá. No entanto, o produtor duma imagem produz a partir de um modelo mental próprio, que pode não ser coincidente com o do observador da imagem.


A este propósito lembrei-me da seguinte situação, que ocorreu há dias, na minha sala de aula:
uma das minhas alunas de 8 anos (3º ano) fez-me a seguinte pergunta:
- Professora, porque é que nos livros da escola não aparecem meninos iguais ao F.?
Inicialmente eu não percebi qual a razão da pergunta, mas ela lá explicou que nos livros, os desenhos mostravam sempre meninos ou meninas loiros e morenos... então e os meninos de cor? Ao folhear o livro a que ela se referia, de Língua Portuguesa, compreendi que o que ela dizia era muito pertinente...


Aliás, muitas vezes acontece que quem tem contacto unicamente com modelos conceptuais e constrói modelos mentais a partir deles, pode depois descobrir que não correspondem à realidade... ou será que não?

Estou-me a lembrar por exemplo, de imagens de uma série de animais de tamanhos diferentes, como leão, girafa, elefante... se as imagens estiverem colocadas de forma a que não se percebam algumas das características e diferenças entre esses animais, não poderão os alunos partir do princípio que os animais têm todos o mesmo tamanho?

Refiro-me concretamente aos alunos mais pequenos... até se costuma dizer que um aluno que nunca viu uma galinha (e que só conhece representações) não faz a mínima ideia de como ela é na realidade.

segunda-feira, março 12, 2007

Gramática da mensagem visual

Segundo a teoria de Kress e van Leeuwen (1996) da mesma forma que se aprende a ler e a produzir textos também é possível aprender a ler os elementos não-verbais de uma mensagem.
Para estes autores os textos são construções multimodais e consequentemente a escrita é apenas um dos modos de transmissão de uma mensagem, aliás a língua pode ser percebida como parte de um contexto socio-cultural, sendo a própria cultura entendida como produto de um processo de construção social.


Partindo da observação de signos visuais do quotidiano Kress e van Leeuwen desenvolveram uma perspectiva que aborda as significações das mensagens visuais em alguns contextos comunicacionais, focalizando-se numa teoria de comunicação semiótica social, centrada nos processos de significação dos intervenientes de um circuito comunicacional.

O nosso mundo é por nós percepcionado através de muitos modos, passando todos eles pelos nossos sentidos e pelo nosso envolvimento com o ambiente mais ou menos estimulante em que interagimos.

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Seguindo a ideia de Barthes de que é o interprete (receptor) de uma mensagem (neste caso de cariz visual) que lhe atribui uma ou várias significações, resolvi levar algumas imagens para a sala de aula, deixando que os alunos as observassem e falassem depois sobre elas. Diria que quem mais aprendeu com esta actividade fui eu!

Escolhi colocar aqui duas das imagens e descrever algumas das observações dos alunos, que a mim me pareceram mais interessantes.









Escolhi estas duas imagens porque, curiosamente, alguns dos alunos encontraram pontos em comum nelas.
Para o K., as pinturas da primeira imagem foram os primeiros graffitis que os nossos antepassados criaram.
Eu disse-lhes que eram pinturas rupestres e o A. disse logo que serviam para os homens antigos deixarem escritas coisas importantes.
Escritas? - perguntei eu.
Claro, só que como não sabiam escrever com palavras, como nós, usavam desenhos, disse a F.
E qual o significado da pintura rupestre?
Uns acharam que tinha a ver com os animais que os nossos antepasssados conheciam, outros acharam que eram os animais que eles queriam apanhar e comer...
Sobre a segunda imagem, os alunos identificaram-na imediatamente como sendo um graffiti e foi muito interessante a conversa que estabelecemos sobre se é uma forma de arte ou não e se é ou não legal. É engraçado perceber o muito que crianças de 8 a 10 anos sabem já sobre estes assuntos, a maioria considerou que os graffitis são arte e um ou dois falaram mesmo em "Arte urbana". Consideraram ainda que é legal, desde que seja feita em "spots" que existem para o efeito, como um na zona das "Amoreiras", que segundo eles está muito "fixe".
Perguntei-lhes o que achavam que significava aquele graffiti em específico, a maioria disse apenas que era um olho, que se calhar não era a imagem do graffiti completa. Mas o k. disse-nos que podia ser um olho a ver o que estava à sua volta, que às vezes quem pintava graffitis não se limitava a fazer a sua assinatura, mas gostava de deixar desenhos que nos fizessem pensar!

quarta-feira, fevereiro 21, 2007

O Grupo µ

O mistério das coisas, onde está ele?
Onde está ele que não aparece?
Pelo menos a mostrar-nos que é mistério?
Que sabe o rio e que sabe a árvore
E eu, que não sou mais do que eles, que sei disso?
Sempre que olho para as coisas e penso no que os homens pensam delas,
Rio como um regato que soa fresco numa pedra.
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Porque o único sentido oculto das coisas
É elas não terem sentido oculto nenhum,
É mais estranho do que todas as estranhezas
E do que os sonhos de todos os poetas
E os pensamentos de todos os filósofos,
Que as coisas sejam realmente o que parecem ser
E não haja nada que compreender.
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Sim, eis o que os meus sentidos aprenderam sozinhos:
-As coisas não têm significação: têm existência.
As coisas são o único sentido oculto das coisas.
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(Alberto Caeiro)
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O Grupo µ defende um modelo em que o signo icónico é o produto das relações estabelecidas entre três elementos: o significante, o tipo e o referente.
Nesta relação, o referente é um objecto, que pode ou não ser real. O significante é composto por um conjunto de estímulos visuais que correspondem a um tipo estável. Por sua vez, a noção de tipo recai sobre a imagem mental efectuada pelo sujeito e que visa que este último estabeleça uma relação de equivalência ou semelhança entre o significante e o referente.

Os autores consideram a emissão dos signos icónicos como a produção, ao nível do canal visual, de simulacros do referente, através de transformações efectuadas de forma que, o resultado é semelhante ao tipo correspondente ao referente.
Por seu lado, a recepção de um signo visual é feita através de um referente e das relações que se estabelecem entre eles, e um modelo tipo, estável.
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Este conjunto de investigadores afirma que a fronteira entre o figurativo e o não figurativo é, algumas vezes, difícil de definir.
Acrescentam ainda que os valores culturais e as expectativas têm influência na interpretação de uma mensagem visual, estando o icónico ligado ao conteúdo e o plástico à expressão do signo visual.
O processo de significação tem assim cariz sensorial, dependendo da compreensão (análise) do “código plástico”, através do cruzamento das variáveis forma, cor e textura e do conjunto formado por elas.

Breve olhar sobre "semiótica"


Durante as minhas leituras, à volta do tema da semiologia, pareceu-me importante escrever uma breve referência à ciência que estuda os signos: a semiótica.
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"Ocupa-se do estudo do processo de significação ou representação, na natureza e na cultura, do conceito ou da idéia." (in wikipédia)
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Foi já durante o séc. XX, que esta disciplina adquiriu o estatuto de "ciência", com autores como Pierce (anteriormente referido), Saussure, Morris, Greimas e Umberto Eco, entre outros, a pensar sobre esta temática.
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Esta referência à semiótica, tornou-se imprescindível quando, ao iniciar a minha leitura do cap. IV do "tratado do signo visual", me deparei com um grande número de informações sobre os estudiosos desta disciplina, bem como sobre o assunto: o signo icónico.
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Se para Morris (1946), o signo icónico tem as mesmas propriedades que o que lhe é denotado (sob um certo ponto de vista), para outros (Ruesch e Klees), são um símbolo, através das suas proporções e relações tornam-se similares ao objecto ou à ideia que representam.
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Para Pierce, o signo está associado ao seu pensamento filosófico. Para este autor, uma relação triádica (primeiridade, secundidade e terceiridade) permite-nos perceber os fenómenos visuais (fanerons). O signo pode classificar-se em três categorias (já referenciadas): ícone, índice e símbolo.
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Umberto Eco defende que, ao referirmos meramente o campo das percepções, é necessário afirmar que o signo icónico constrói um modelo de relações homólogo ao modelo de relações perceptivas que o sujeito constrói, ao conhecer e recordar um objecto (1970). Desta forma, a ambição da semiótica será, não a de elaborar uma tipologia para designar os signos mas o estudo dos modos de produção da função semiótica.
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A estas problemáticas se dedica também o Grupo µ...

terça-feira, fevereiro 20, 2007

A ler o tratado do signo visual... lembrei-me de Pessoa!


Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa.
Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.

(Ricardo Reis)
(desenho de Almada Negreiros)


domingo, janeiro 28, 2007

O conceito de signo em Peirce

Após a leitura dos documentos disponibilizados na disciplina e depois da minha primeira tentativa de reflexão sobre a imagem, aqui me proponho a continuar a minha reflexão...

Ao ler sobre "imagem", percebi que hoje em dia esta é uma palavra com inúmeros e diversos significados... (relacionando-se com os diversos meios de comunicação que temos ao nosso dispor) o que me leva a outra reflexão, desta vez sobre o significado das representações visuais (ou imagens).

Tentando, de uma forma muito simplista, explicitar o conceito de signo diria que Pierce classifica os signos em três categorias diferentes; um signo pode ser um ícone, um índice ou um símbolo.


Escolhi uma pintura de Andy Warhol, para tentar ilustrar esta ideia de significação da imagem.






Considerando as ideias de Pierce, a que categoria corresponderia esta imagem?

ícone - porque representa uma lata?
(O signo assemelha-se de alguma forma ao seu objecto)


índice - dá-nos uma ideia do que se pode encontrar lá dentro, sopa ou polpa de tomate?
(Existe uma ligação entre o signo e o seu objecto)


símbolo - porque representa um tipo de pintura, "pop-art"?
(Não existe semelhança entre o signo e o objecto, mas representa uma ideia, um conceito)


Poderá ser esta uma representação mista?


Mas não dependerá esta categorização do contexto em que o signo aparece, da relação que se estabelece e da própria expectativa de quem tenta percepcionar o signo?

À luz do conceito de signo em Pierce, penso que esta representação visual é mista, ícone - porque representa uma simples lata de sopa de tomate e símbolo - porque representa uma década muito marcante do séc. XX, um estilo de vida, uma forma de arte e de expressão.

quarta-feira, janeiro 17, 2007

Um simples traço consegue transmitir a essência de um ser?

ícone e imagem (1ª parte)

Ícone do Lat. icone (...) (in Leme)
Ícone é uma imagem que mantém com um determinando objeto uma relação de semelhança ou propriedade. (in Wikipédia)

Imagem(do latim imago) significa representação visual de um objecto. (in wikipédia)

Representação, reprodução ou imitação da forma(...). (in Leme)

Imagem, que, de acordo com o "idealismo Platónico", era a projecção que a mente fazia de um objecto. O contrário defendia Aristóteles, considerando a imagem como uma aquisição dos sentidos, uma representação do real.

O debate que se iniciou em tão longínquo período da Grécia antiga, continua até aos nossos dias... "serão afinal as imagens meras cópias do real ou partes constituintes dum todo?"
Os argumentos sucedem-se, alternam-se, poderá dizer-se mesmo que se complementam?

Nos dias que correm, em que a comunicação é tão imediata e intensa, qual a necessidade de pararmos e demorar-mo-nos a tentar perceber a mensagem inerente a uma obra artística? Talvez através dessa lenta observação, possamos melhor entender o que queria dizer Pablo Picasso, ao sustentar o mistério de um simples traço poder representar um ser vivo. Não apenas a sua imagem, mas sobretudo aquilo que ele representa, aquilo que ele realmente é.

sábado, janeiro 13, 2007

(pequena anotação)


Este espaço surge no âmbito do Mestrado de Comunicação Educacional Multimédia, mais precisamente para a disciplina de Semiótica das representações visuais.
Por enquanto está ainda muito "em branco", espero ir pensando e anotando muitas coisas, ao longo das próximas semanas.
Quanto ao layout do blog, tenho ainda alguns probleminhas por resolver, por isso e por agora, ele ficará assim!