o meu bloco de notas

segunda-feira, março 12, 2007

Gramática da mensagem visual

Segundo a teoria de Kress e van Leeuwen (1996) da mesma forma que se aprende a ler e a produzir textos também é possível aprender a ler os elementos não-verbais de uma mensagem.
Para estes autores os textos são construções multimodais e consequentemente a escrita é apenas um dos modos de transmissão de uma mensagem, aliás a língua pode ser percebida como parte de um contexto socio-cultural, sendo a própria cultura entendida como produto de um processo de construção social.


Partindo da observação de signos visuais do quotidiano Kress e van Leeuwen desenvolveram uma perspectiva que aborda as significações das mensagens visuais em alguns contextos comunicacionais, focalizando-se numa teoria de comunicação semiótica social, centrada nos processos de significação dos intervenientes de um circuito comunicacional.

O nosso mundo é por nós percepcionado através de muitos modos, passando todos eles pelos nossos sentidos e pelo nosso envolvimento com o ambiente mais ou menos estimulante em que interagimos.

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Seguindo a ideia de Barthes de que é o interprete (receptor) de uma mensagem (neste caso de cariz visual) que lhe atribui uma ou várias significações, resolvi levar algumas imagens para a sala de aula, deixando que os alunos as observassem e falassem depois sobre elas. Diria que quem mais aprendeu com esta actividade fui eu!

Escolhi colocar aqui duas das imagens e descrever algumas das observações dos alunos, que a mim me pareceram mais interessantes.









Escolhi estas duas imagens porque, curiosamente, alguns dos alunos encontraram pontos em comum nelas.
Para o K., as pinturas da primeira imagem foram os primeiros graffitis que os nossos antepassados criaram.
Eu disse-lhes que eram pinturas rupestres e o A. disse logo que serviam para os homens antigos deixarem escritas coisas importantes.
Escritas? - perguntei eu.
Claro, só que como não sabiam escrever com palavras, como nós, usavam desenhos, disse a F.
E qual o significado da pintura rupestre?
Uns acharam que tinha a ver com os animais que os nossos antepasssados conheciam, outros acharam que eram os animais que eles queriam apanhar e comer...
Sobre a segunda imagem, os alunos identificaram-na imediatamente como sendo um graffiti e foi muito interessante a conversa que estabelecemos sobre se é uma forma de arte ou não e se é ou não legal. É engraçado perceber o muito que crianças de 8 a 10 anos sabem já sobre estes assuntos, a maioria considerou que os graffitis são arte e um ou dois falaram mesmo em "Arte urbana". Consideraram ainda que é legal, desde que seja feita em "spots" que existem para o efeito, como um na zona das "Amoreiras", que segundo eles está muito "fixe".
Perguntei-lhes o que achavam que significava aquele graffiti em específico, a maioria disse apenas que era um olho, que se calhar não era a imagem do graffiti completa. Mas o k. disse-nos que podia ser um olho a ver o que estava à sua volta, que às vezes quem pintava graffitis não se limitava a fazer a sua assinatura, mas gostava de deixar desenhos que nos fizessem pensar!